Três abordagens para o sofrimento humano
Ninguém quer sofrer, mas ninguém fica livre do sofrimento ao longo da vida – ele acaba chegando, em algum momento, até porque a morte física é uma coisa certa. Como diz o excelente pregador batista Ed Renê Kivitz: “se você nunca sofreu, meu irmão, eu prometo, você ainda vai ”. É duro mas é verdade.
Por isso mesmo o sofrimento é um tema com o qual as igrejas não lidam bem. E há duas visões diferentes, ambas erradas, a meu ver, usadas para lidar com o sofrimento.
A primeira, e mais antiga delas, é aquela que estabelece que o sofrimento redime e, portanto, todo cristão precisa passar por ele para ser uma pessoa melhor. Ou seja, se não podemos evitar o sofrimento, procuramos torná-lo mais aceitável. E essa abordagem está no próprio “DNA” da igreja cristã. Afinal, os primeiros cristãos sofreram muito - a história da igreja cristã até que o imperador romano Constantino a legalizou, cerca de 200 anos depois da morte de Jesus, foi pontilhada de perseguições e mortes em meio a grandes torturas.
E foi exatamente esse tipo de pensamento que deu origem a práticas como as autoflagelações (por exemplo, cintos cheios de pontas, que penetravam na carne), propósitos estranhos, como silêncio total, etc, tão comuns na igreja da idade média e que continuam vivas, em alguns lugares, até hoje.
Essa visão esquece que Deus é bom e nos ama e, portanto, não tem qualquer prazer em nos ver sofrer. O sofrimento pode até ensinar, mas se houver outra forma de nos fazer aprender, certamente ela será a preferida por Deus.
A outra vertente, a da chamada “confissão positiva”, prega que o sofrimento vem exclusivamente pela falta de fé, pois se a pessoa tiver fé suficiente ficará livre de doenças e outros problemas. Na verdade, essa abordagem nega a existência do sofrimento para o verdadeiro cristão – ou seja, ele somente existe para aqueles que são cristãos “meia boca”.
Eu não sei o que esses teólogos fazem com as declarações do apóstolo Paulo de que enfrentou muitos sofrimentos na sua vida, inclusive o tal “espinho na carne”, do qual nunca se livrou (2 Corintians capítulo 11, versículo 16, até capítulo 12, versículo 10). Será que Paulo não tinha fé suficiente? Claro que não.
Eu defendo uma terceira abordagem que me parece mais de acordo com o que a Bíblia ensina. A diferença do cristão, em relação às demais pessoas, não está na isenção do sofrimento e sim na forma como ele deve ser entendido e tratado. Não devemos buscar ativamente o sofrimento para nos purificar – já basta aquilo que a vida coloca no nosso caminho -, mas também não vamos achar que sofremos por que nos falte fé suficiente.
Eu não tenho a receita para evitar o sofrimento. Gostaria de ter, mas Deus não nos revelou essa informação. O que sei é que o cristão não passa pelo sofrimento sozinho. O Espírito Santo estará sempre junto dele/a, consolando e cuidando. Milhões de pessoas são testemunhas desse fato em suas próprias vidas.
Evitando o sofrimento desnecessário
Mas é possível, sim, mostrar como evitar o sofrimento desnecessário. E algumas formas de fazer isso são óbvias, mas nem por isso fáceis de seguir.
Por exemplo, manter-se em boa forma física, não comer o que não é saudável, etc, já evita muito sofrimento físico desnecessário. Mas vejamos alguns outros exemplos mais complicados:
• A autoflagelação
É comum encontrar pessoas que têm um sentimento de culpa tão grande, por conta de erros do passado, que vivem se culpando e se sentindo péssimas – elas como que praticam a autoflagelação. No fundo, elas acham que se sofrerem muito, terão “pago” pelos erros que cometeram. Mas, torturar-se continuamente não resolve nada. Peça perdão a quem você feriu e, sobretudo peça perdão a Deus e convença-se que todos erram. É parte da natureza humana. E saiba que Deus perdoa e proporciona, para todos, acesso a uma nova vida junto a Jesus Cristo.
• Nada fazer para libertar-se
É o caso, por exemplo, de uma pessoa que se diz solitária, mas nada faz para se aproximar das outras pessoas. Ser solitária não é motivo para ficar em casa, chorando, todo sábado à noite. Há grupos que se encontram apenas pelo prazer de desfrutar a companhia uns dos outros. Ficar cada vez mais isolado/a e amargo/a, nada vai resolver. Lute contra o seu sofrimento. Ore, peça ajuda a outros irmãos na fé e coloque-se à disposição para experimentar novas situações, enfim, mobilize-se.
• Preocupar-se demais pelo outro
Essa é uma situação típica dos pais, quando seu filhos crescem. Chega um momento em que os pais precisam entender que se os filhos quiserem escolher um caminho ruim, que vai lhes trazer dificuldades e sofrimento, não há o que fazer, exceto entregar o assunto nas mãos de Deus, orar sempre e seguir em frente. Sofrer até se acabar, nada vai contribuir para resolver o problema.
• Deixar o sofrimento assumir tamanho excessivo
Há pessoas que sofrem muito com o que acontece com qualquer pessoa - choram por qualquer coisa que passa na televisão falando do sofrimento alheio. Mas, por estranho que possa parecer, não é isso que se espera de um cristão. Ele é chamado sim para ter compaixão, trazer consolo e palavras de sabedoria e ajudar nas necessidades, não para sofrer dessa forma. Para entender bem o que estou dizendo, imagine um médico que seja excelente profissional e cristão e que lide com pessoas que estão morrendo. Se ele sofresse dessa forma junto com cada paciente, ele não conseguiria exercer sua profissão e ajudar as pessoas.
• Pintar a situação pior do que ela é
Há pessoas que são sensíveis em excesso. Um comentário casual de um amigo ou do marido, pode estragar uma noite de festa, pois a pessoa fica sofrendo por aquilo o tempo todo. Ou seja, a pessoa não tem proporção das coisas. Quando alguém disser que você está exagerando no sofrimento, preste atenção. Procure verificar se o comentário é justo, e se for, ajuste suas reações à realidade dos fatos.
• Querer encontrar sentido para todo sofrimento
Em alguns casos, as pessoas querem desesperadamente saber por que determinada coisa está acontecendo. Cobram de Deus uma resposta que não virá, até porque Ele nunca nos prometeu contar tudo. A forma de aceitar esse tipo de situação é usar a fé na graça sem tamanho de Deus e saber que Ele está sempre conosco. É simples assim. E ajuda muito mudar a pergunta. Ao invés de “por que”, pergunte “para que”. Eu já dei um testemunho neste blog de sofrimento que me fez superar uma falha de caráter. Quando entendi o “para que”, fiquei em paz. O sofrimento continuou a ser doído, mas passou a ter outro significado para mim.
Espero que minhas reflexões ajudem nos seus dias de sofrimento.
Com carinho
Seguimos Deus
Foto:Google Imagens
Texto:desafiodesercristao.blogspot.com.br/
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