sábado, 25 de agosto de 2012

Saindo do fundo do poço!

Há experiências na vida que podem nos marcar, tornando-se um paradigma com o qual avaliar outras situações que provoquem igual sensação. Trauma, diriam alguns... Dor recorrente, outros... O nome ajuda, mas não resolve. Precisaríamos de um alguém que tivesse estado lá, no fundo do poço, que tivesse experimentado a agonia, e a tivesse superado; de alguém que tivesse sofrido um grande trauma, mas que não tivesse ficado traumatizado... Precisamos de alguém como José para nos ensinar.

José era um adolescente hebreu, filho de Jacó. Das duas esposas do patriarca, José era o primogênito da amada Raquel. Privilegiado dentre os irmãos por seu pai, tinha deles apenas um ódio crescente.

A trama começa com um sonho, contato como se fora coisa normal, que se sonha numa noite comum. Aos ouvidos o relato soa como desatino: “Reinarás, com efeito, entre nós; e nos curvaremos ante ti?” Até do Pai ouve reprovação, que prudente aguarda o querer do Soberano.
Mandado pelo pai para vigiar e alimentar os irmãos, não os encontra no lugar programado; mas um estranho aparece e lhe indica o caminho, para que não se deixasse perder do seu destino. Lá, ao longe, os irmãos que os avistam tramam sua morte! Convencidos pelo mais velho a não derramarem sangue inocente, o jovem José é colocado num cisterna vazia. José foi parar no fundo do poço. Ainda desorientado, mudo permanece, à espera de direção.
José é aviltantemente vendido como um escravo pelos próprios irmãos a mercadores que viajavam rumo ao Egito, onde seria vendido novamente a Potifar, chefe da guarda egípcia. Lá, sob a benção de Deus, tudo o que lhe era entregue às mãos, prosperava grandemente. Potifar, percebendo o fato, enriquece depois de entregar seus bens e a administração deles a José.
Sua beleza física chama a atenção da Esposa do Oficial, que se insinua constantemente, até num atentado ao pudor, José de desvencilha da tentadora, mas sua capa fica para incriminá-lo injustamente de um crime que a todo custo evitou. A continuidade da injustiça vem quando sem verificação, julgamento ou coisa que o valha, Potifar acredita cegamente em sua esposa, encarcerando José de imediato.

Quando tudo parecia melhorar, quando finalmente parecia que as coisas poderiam ser melhores para o desventurado José, a injustiça mais uma vez lhe visita, e ele vai parar na prisão. Lá está José, novamente, no fundo do poço...


Um tema recorrente


O que há de recorrente na vida de José, além das constantes injustiças sofridas, é a presença de Deus, cujas mãos poderosas dirigem seu destino. A providência divina parece ser a atmosfera em que a história do jovem José se desenrola.

O que é necessário ressaltar, para que se não esqueça, é que queremos ver com cores mais vivas a presença da providência. Entretanto, a beleza do tema e da sua realidade em nossa vida, é que a providência é um tema poderoso, mas sutil. No desenrolar da nossa história no tempo, nem sempre é claro o alvo providencial de Deus para nós. De fato, a experiência dos santos é que quase nunca vemos para onde nossa vida caminha, de modo que somos encomendados à confiança em Deus, como quem canta que não sabe o que de mal ou bem é destinado a si, mas sabem em quem tem crido... Lutero: não sei por quais caminhos Deus me conduz, mas conheço muito bem o meu guia.

Embora o desejo seja sempre ver mais vividamente, temos que ter por certo que a providência está sempre presente. Ao olharmos para os singulares acontecimentos na vida de José, por sabermos o fim que os fatos ensejaram, não há desespero, dúvidas ou angústia. Mas se, por outro lado, levarmos em conta o contexto de José, nos colocando no lugar dele, tendo em vista o pouco conhecimento de que dispunha, inclusive a ignorância do fim daquela jornada, tal como nós estamos em relação à nossa própria história de vida, então será a verdade da presença providente de Deus que teremos como única garantia e certeza de que em boas mãos estão nosso destino. Ainda assim, não haverá lugar para desespero, dúvidas ou angústia. O alvo final pode até não estar claro, mas o que tem que ser bem claro para nós é quem é o Deus de toda providência que nos acompanha...


Gênesis 37, 40 e 50


O que queremos saber é como sair do fundo do poço! Queremos lidar com a ira que é suscitada quando uma injustiça é perpetrada contra nós. Queremos lidar com a tristeza e o desânimo que toma conta quando tudo vira de cabeça-para-baixo na hora em que esperamos que melhorem.... Queremos lidar biblicamente com o que comumente as pessoas chamam de trauma.
Estes capítulos de Gênesis oferece um santo remédio. Estes capítulos do livro de Gênesis registram episódios na vida de José que, embora apresentem histórias de decepção, fornecem junto grande ajuda, pois, se entendermos como entramos no poço, decidiremos se os mais tristes acontecimentos vividos terão ou não o poder de marcar e traumatizar nossa vida, ou serão o ambiente em que a graça de Deus florescerá no guiando a um entendimento mais profundo da providência, e um conhecimento mais íntimo de Deus.

No capítulo 37, José é vendido pelos irmãos. Ao que tudo indica, a decepção começa com a descida ao poço. Aqueles eram seus irmãos mais velhos, que deveriam dar-lhe proteção agora engendravam tamanha injustiça contra o irmão mais novo. Em Gênesis 40, após ter passado pela injusta acusação de assédio sexual , na prisão, interpretando o sonho do copeiro, José fala do que o coração está cheio, explicando que nada tinha feito para que tivesse sido posto naquela “masmorra”. A Palavra hebraica usada ali também é encontrada em Gênesis 37. 24, porém traduzida por “cisterna”. Agora pense: O que faria José usar a palavra “poço” ou “cisterna” aqui? Por que mesmo estando no Egito, para José era como se ainda não tivesse saído daquele poço hebreu? Curioso, não? Embora José estivesse à milhas da cisterna em que seus irmãos o puseram, ele ainda permanecia lá dentro. José havia estado confuso dentro daquela sombria cisterna, e mesmo fisicamente fora dele, sua alma ainda habitava lá. O poço passou a ser um paradigma de injustiça, confusão e desorientação, com o qual avaliar os acontecimentos posteriores.

Quando os funcionários de Faraó foram aprisionados e algum tempo depois sonharam, acendeu em José um sonho de liberdade. Após interpretar o sonho do copeiro, vendo que seu fim era aprazível, pediu que se lembrasse dele quando as coisas se lhe melhorassem, visto as injustiças que havia sofrido; porque de fato, havia sito roubado da terra dos hebreus; e, lá nada fez, para que o pusessem naquele poço profundo...

José, humano e falho, num momento de fraqueza, esquece-se daquele que realmente dele deveria se lembrar. Nem sempre nossa compreensão e confiança são inabaláveis. A compreensão final de José, entretanto, difere bastante desta vista aqui! Em Gênesis 50 muita coisa havia mudado. O jovem nobre, vendido como escravo e aprisionado injustamente, agora é o homem mais poderoso do antigo Egito. Em suas mãos está o poder de fazer justiça e corrigir os atos do passo, com vingança e revanche. Seu pai havia morrido, seus irmãos eram hóspedes naquela terra que havia se tornado a sua. Os antigos algozes agora são humildes vassalos em busca de alívio. Eles ainda não haviam provado do arrependimento, e com mentiras tentam convencer o poderoso José de não os punir pelos odiosos atos passados.

Para nossa edificação, alegria deles e paz de José, Um mais poderoso que o poderoso José do Egito, tirou José do fundo do poço antes destes acontecimentos finais. Deus em graça não somente tirou José de uma condição de humilhação para outra de exaltação, mas tirou sua alma da cisterna, fazendo-o entender que quem dele haveria de se lembrar era o próprio Deus. Quando Deus dele se lembrou, fez o copeiro lembrar-se, e José pôde usar seus dons de modo tão abençoador que não só livrou o Egito da fome, como a muitos povos que puderam ao Egito recorrer, incluindo sua família, que agora esta diante de um José bem diferente.
O que vemos faltar na conversa como copeiro esteve presente na conversa tensa com a mulher de Potifar: Deus. Mas quando em Gênesis 50 José diz aos irmãos que na verdade seus irmãos tramaram o mal contra José, Deus estava durante todo o tempo tramando o bem, através dos males pelos quais ele passou, começados no fundo daquela cisterna...


Entendendo na prática


Muitos diriam que a compreensão cognitiva não tem tanto poder prático quando gostaríamos. José, entretanto, é um exemplo que um correto entendimento nunca fica estancado no campo cognitivo. Um entendimento real e experiencial de um Deus providente, que intervém ativa e graciosamente, levou José a não somente a sair do poço em que sua alma houvera ficado, mas também a tirar outros de lá. Diz a Escritura que José falou ao coração dos irmãos mentirosos, como profeta da verdade que era apresentando-lhe um Deus soberano que em graça operou através dos atos maus daqueles homens maus; e não obstante, seu plano era bom, perfeito e agradável.

Quando nós experimentamos esse conhecimento, como quem conhece no fundo do coração, de ondem procedem as fontes da vida, a vida que de lá procede já sai alterada pelo conhecimento transformador e libertador da providencia redentora de Deus.

Jesus, muitos anos depois, disse que o conhecimento da verdade liberta (João 8.32), mas não um conhecimento intelectual, mas um que opera no centro motor da vida, no coração. Foi um conhecimento deste tipo que José teve. Não somente um conhecimento “do tipo”, mas um conhecimento específico: Deus é providente, opera em amor para o bem daqueles a quem ama. Isto significa redenção nossa e glória dele!

Lembrou-se Deus de José e José saiu do fundo do poço. Lembrou-se José de Deus, e seus irmãos começaram a jornada de saída de seus poços...

Você também pode ajudar outros a sair do fundo do poço, mas para isso você também tem que entender o que José entendeu: Quem deve se lembrar de nós é Deus! É Ele quem opera providencialmente nos acontecimentos de nossa vida, de modo que sua vontade prevaleça, vontade esta que é boa, perfeita e agradável.

Fonte:http://aconselhandocombiblia.blogspot.com.br  Texto Jônatas Abdias

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