sábado, 14 de dezembro de 2013

O CABELO DA RELIGIOSIDADE


Por Adiel Teófilo.
Há situações no meio evangélico que nos causam surpresa, outras, no entanto, deixam-nos perplexos, pelo alto grau de religiosidade que orienta as decisões. De onde se espera a melhor atitude possível de compaixão para com o rebanho do Senhor, surge justamente o contrário: as regras da religião se tornam mais importantes que o Grande Mandamento: “...e, amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22.39).
Certa Irmã de uma denominação centenária no Brasil comunicou ao seu pastor que iria doar parte dos seus cabelos longos. Esclareceu ter sido tocada por Deus para ajudar uma mulher que perdera todo o cabelo, em decorrência do tratamento de câncer, e que não tinha condição financeira de comprar uma peruca. Por essas razões cortaria parte do cabelo e faria a doação.
E qual foi a posição adotada pelo referido pastor? Aprovou o sentimento de amor ao próximo demonstrado pela Irmã de sua própria igreja? Comoveu-se com a situação da paciente mulher que perdera os cabelos? Infelizmente não foi isto que ocorreu! A atitude que tomou é de causar perplexidade...
A Irmã atendeu a voz de Deus em seu coração e fez a doação, entretanto foi disciplinada. Ela foi suspensa da comunhão, não podendo participar da Ceia do Senhor, sob o argumento de que a denominação não aceita que a mulher corte os cabelos. Além disso, foi convidada a não mais frequentar os cultos e atividades na igreja. E qual a justificativa? Pasmem!!! A presença daquela Irmã com cabelos curtos poderia influenciar negativamente as demais mulheres da igreja...
Parece que este dirigente não confia muito em suas ovelhas! Se podem tão facilmente ser mal influenciadas é porque não foram ensinadas o bastante para discernir entre o certo e o errado, entre doar por amor e fazer por vaidade. Ora, não é possível acreditar que as demais mulheres da igreja, com a presença daquela Irmã, resolvessem todas cortar os cabelos usando a doação como mero pretexto para afrontar o costume da igreja. É subestimar por demais a capacidade de discernimento das ovelhas, virtude que nem sempre se verifica em quem deveria tê-la para ensinar. Porquanto, se uma ovelha está doente é no aprisco que deve receber cuidado, e não ser convidada a se retirar porque está enferma. 
É bem verdade que a Palavra de Deus nos mostra que “...ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu”; e mais, “... para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se” (I Coríntios 11.6-15). Contudo não há no texto menção a comprimento mínimo ou máximo que deve ter o cabelo da mulher. A recomendação de Paulo é no sentido de que “o comprimento do cabelo do homem e da mulher deve ser tal que haja uma distinção entre eles. O cabelo da mulher deve ser longo em relação ao do homem” (Nota de rodapé, Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, 1995, p. 1752).
Ademais, cabelo comprido por si só não é símbolo de santidade nem testemunho de salvação da mulher. E se fosse tão precioso em si mesmo para a prática da religião, acima dos sentimentos cristãos mais puros e sinceros, o Senhor Jesus não teria aceitado o que fez Maria: “tomando um arrátel de unguento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos” (João 12.3). Nem ainda a atitude da mulher pecadora, que “estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugava-lhos com os cabelos da sua cabeça” (Lucas 7.38). Como se vê, tem grande valor quando colocado à disposição do Senhor em testemunho da humildade e submissão à sua vontade.


Enfim, cabelo aqui mesmo fica e não salta para a vida eterna. “E agora digo isto, irmãos: que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus” (I Coríntios 15.50). Não está nele o verdadeiro adorno: “O enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos” (I Pedro 3.3). Certamente há virtudes tão sublimes que embelezam muito mais que as joias caras e os penteados chiques, “pois permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor” (I Coríntios 13.13). Portanto, doar parte disponível e renovável do corpo é um grande gesto de amor ao próximo, muito mais relevante que conservar de forma mesquinha o cabelo da religiosidade.
 Seguimos Deus

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